Como agir sempre: abandonando a mentalidade do "ou tudo ou nada"
Autor: André Valongueiro
Tudo ou nada. Go Hard or Go Home.
Há algo de
“sedutor” nessas afirmações. Elas nos inspiram. E elas nos inspiram e “seduzem”
por um motivo muito óbvio: nós sempre queremos fazer o melhor.
Essas sentenças
despertam em nós, imediatamente, a vontade de sermos bravos e corajosos. E
diante do despertar súbito dessas vontades parecemos esquecer que, no “ou
tudo ou nada”, ainda temos o “nada” como uma das opções.
Conquistar o “tudo”
é fantástico, mas ficar com o “nada” é algo extremamente frustrante. E quando
se trata do seu crescimento pessoal, ficar com o “nada” é péssimo. Ficar com o
“nada” significa não obter nenhum progresso, nenhum avanço e nenhum
crescimento.
O problema da mentalidade “ou tudo ou
nada”
Você, alguma vez,
já tomou a decisão de fazer algo legal, produtivo e interessante e depois,
diante de algum imprevisto, desistiu? Eu aposto que sim. Isso aconteceu comigo
tempos atrás.
Eu havia me
preparado para competir em uma prova que combinava natação e corrida e, um dia
antes da competição, tive um aborrecimento (não consigo lembrar com o que me
deixei aborrecer, o que prova que não era algo tão importante assim, afinal) e
terminei desistindo de competir.
Para mim, o
aborrecimento que eu tive fez com que eu não pudesse mais competir. E essa
conclusão que tive foi completamente desprovida de sentido (foi, na verdade,
estúpida), pois, com ou sem aborrecimento, eu poderia competir normalmente e me
divertir praticando uma atividade que gosto.
Pensando bem,
competir até me ajudaria a superar mais rapidamente o aborrecimento. Eu iria,
no mínimo, esquecer aquela chateação por algumas horas e me divertir um pouco.
Eu queria competir,
mas a mentalidade do “ou tudo ou nada” me fez escolher o “nada”
ao me deparar com um imprevisto. O aborrecimento destruiu o “cenário perfeito”
que eu desejava para competir e como eu não tinha mais o “tudo” (tudo
perfeito, tudo em ordem, tudo OK), eu optei pelo “nada”.
O que desejo
mostrar é que a mentalidade “ou tudo ou nada” algumas vezes nos faz
escolher o “nada”, o que compromete o nosso progresso, especialmente no
longo prazo.
E nós fazemos esse
tipo de escolha porque subestimamos o valor de fazer apenas um
pouco. Nós queremos o “tudo” e se o “tudo” não está
disponível para nós, nós então optamos pelo “nada”, sem considerarmos
qualquer outra opção entre um extremo e o outro.
O grande erro desse
tipo de mentalidade é pensarmos que, sendo o benefício e o valor do “tudo”
grande demais, nada inferior ao “tudo” é válido. Mentira!
Se você sair de
casa para correr ou caminhar 1Km todos os dias terá corrido, ao final de
um ano, o equivalente a mais de 8 maratonas. Escrever 200 palavras
por dia significa ter o seu livro pronto nesse mesmo período de um ano. E
essas pequenas coisas são tão fáceis de serem feitas que, em um mesmo ano, você
pode escrever um livro, atingir uma ótima forma física e realizar muitas outras
coisas. Pense nisso.
O que faz da mentalidade “ou tudo ou
nada” uma mentalidade pouco eficaz?
Quando você escolhe
viver e dedicar-se aos seus projetos com uma mentalidade “ou tudo ou nada” você
coloca imediatamente sobre si mesmo uma grande pressão para que tudo
seja executado com 100% de perfeição e aproveitamento. Afinal, “é tudo ou
nada”.
Mas, afinal, a
pressão é sempre útil ou ela também pode ser um obstáculo ao progresso?
A pressão é uma
forma de stress. A psicologia parece acreditar que a pressão funciona
como uma espécie de “ativador” dos comportamentos pessoais que já são bem
conhecidos, bem testados e, por isso, “à prova de erros”: os nossos hábitos.
E é fácil perceber esse “padrão ativador de hábitos” da pressão se
fizermos uma análise da nossa própria conduta quando estamos sendo oprimidos
por ela.
Quando estamos sob
forte pressão há a tendência natural de agirmos visando não cometer erros.
Queremos sair daquela situação de stress o mais rápido possível e, por
isso, faremos uso das nossas melhores habilidades – as habilidades mais sólidas
e os comportamentos mais habituais e “à prova de erros” - e evitaremos qualquer
habilidade ou comportamento mais recente e “experimental”.
Os hábitos e os
comportamentos e habilidades já bem estabelecidos são ferramentas fantásticas,
mas quando o assunto é o seu desenvolvimento pessoal, a utilidade deles é
limitada.
A idéia de se
desenvolver como ser humano está diretamente ligada com a mudança (você deseja
mudar a si mesmo para melhor), mas se você está sempre “se desenvolvendo sob
pressão” e, exatamente por isso, sempre “acessando” os velhos hábitos, é óbvio
que você não está mudando coisa alguma.
Resumindo: quando
você pensa em termos de “ou tudo ou nada” a pressão que você coloca sobre si
mesmo para que absolutamente nada saia do controle e tudo seja perfeito, fará
com que você pense e aja da maneira mais habitual e automática possível,
visando evitar erros e sair rapidamente da situação de stress em que se
encontra.
Agora eu tenho
outra pergunta importante.
As grandes
realizações são realmente melhores do que as pequenas?
Essa parece ser uma
pergunta desprovida de sentido, pois é óbvio que as grandes realizações são
melhores do que as pequenas.
No entanto, quando
estamos falando sobre crescimento pessoal, há algo ainda mais importante do que
as grandes realizações: as realizações consistentes. A ação consistente
forma os hábitos, que são a base da nossa vida. A consistência é
o segredo para o sucesso!
As pequenas
realizações, feitas de maneira consistente, dia após dia, são melhores do que
as grandes realizações esporádicas, alcançadas apenas de tempos em tempos.
Naturalmente, essa
constatação torna-se discutível se você for alguém capaz de realizar grandes
feitos regularmente. Mas, convenhamos, poucas pessoas são capazes de fazer
grandes coisas o tempo todo.
Conclusão
Para concluir essa
reflexão, vamos aos pontos que resumem as idéias que foram apresentadas nesse
artigo:
1. Querer o “tudo”
é, eventualmente, inútil
As grandes
intenções – aquelas que nos fazem querer sempre realizar grandes feitos – são
absolutamente inúteis se não trazem resultados positivos e não o fazem crescer
e se desenvolver.
Você pode dizer
para si mesmo “ou tudo ou nada” e querer sempre realizar grandes coisas,
não se contentando nunca com fazer apenas um pouco por dia, mas se você nunca
faz essas grandes coisas tornarem-se reais, o tamanho da sua intenção não
importa. Ela é inútil.
O pior desse
cenário, no entanto, é o fato de que essa “intenção sem realização” irá
minar, aos poucos, a sua autoconfiança. Péssimo negócio!
2. O pouco é melhor
que o “nada”
Fazer apenas um
pouco é infinitamente melhor do que não fazer nada (falando em termos
matemáticos e práticos).
3. Um pouco todos
os dias é melhor do que muito em um único dia
Fazer um pouco todos
os dias terá muito mais impacto na sua vida e será muito mais transformador
do que fazer algo grande em apenas um dia (ou alguns poucos dias) e então
passar um longo período sem realizar mais nada significativo.
Fazer um pouco
todos os dias te dará a chance de construir um novo hábito, de dominar uma nova
habilidade com muito mais qualidade e competência, e esses são os fundamentos
que serão úteis para construir sucesso ao longo de toda a sua vida.
No final das
contas, o que precisa ficar claro é que as pequenas intenções (pequenas, porém
consistentes e que o levem a agir diariamente) são muito superiores às grandes
intenções.
Abandone a
mentalidade “ou tudo ou nada” e abrace as pequenas realizações diárias. Você
irá se surpreender!
Desejo o melhor
para sua vida!
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